Na Boca Maldita, no coração de Curitiba, alguns curiosos pararam para ver uma movimentação diferente do cotidiano de um dia qualquer. Logo alguém já reconheceu de longe: "Sicupira e Krüger, que bom ver vocês juntos!", disse um senhor, acenando para a dupla de ex-jogadores e hoje lendas vivas do futebol paranaense.
É certo que nem Barcímio Sicupira Junior e Dirceu Krüger nunca jogaram na mesma equipe (exceto na Seleção Paranaense), mas não é por isso que não dividiram os gramados. Mas naqueles tempos... Naqueles tempos em que os dois eram atletas, mais precisamente entre as décadas de 60 e 70, o glamour do futebol era diferente, a forma de jogar também porém, mais diferentes ainda eram os Atle-Tibas.
Ídolos da dupla Atle-Tiba, os dois ex-atletas justamente relembraram os tempos em que entravam em campo e que a relação entre os clubes era mais próxima. "A gente jogava contra no domingo de tarde e no domingo de noite, se a gente se encontrasse, a gente tomava um chopp. Tinha a disputa dentro de campo e terminava o jogo, ganhasse quem ganhasse, terminava ali. E era uma delícia, a gente participava com a torcida", lembrou Sicupira.
"Quando saíamos do Couto Pereira, era dividido ao meio, só tinha uma corda, era metade da torcida para cada lado e não tinha uma confusão. Saíam as duas torcidas pela Mauá, juntas, independente do resultado e saíam conversando", complementou Krüger.
Uma memória de um tempo que faz falta nos dois senhores, que hoje acompanham seus times do coração cada um a sua maneira. Krüger continua sendo funcionário do Coritiba e Sicupira é comentarista esportivo, com destaque na Banda B.
E quando o tópico é um Atle-Tiba especial. Cada um lembra de um, assim como as torcidas dos dois times. Do lado coxa-branca, Krüger lembra do 5 a 0, de 1967. "Foi um jogo extraordinário e não foi pelo 5 a 0 que não tenha sido um jogo sensacional. Foi um clássico, um dos melhores. E nós tivemos a felicidade de ganhar de 5 a 0, porque aproveitamos a oportunidade nesse jogo. Eu lembro que nessa ocasião, nesse jogo, eu dei um drible que eu fiquei até meio sem saber como foi. Eu dei um drible no Charão, com o olhar. E aí foi caixa!", recordou o Flecha Loira.
Já para Sicupira, em 1971, o resultado de 4 a 3 para o Atlético-PR, é o Atle-Tiba inesquecível. "O Coritiba começou ganhando de dois a zero. Aí o Passarinho fez dois gols e acabou. Aí pênalti contra o Coritiba e o Nilson Borges que bateu. Era para eu bater, mas eu dei uma 'pipocadinha', disse que o joelho estava doendo. Mas é que tinha 50 mil pessoas no Couto, perdendo de 2 a 0. Eu vou lá e perco o pênalti, como é que fica? E o Nilson vai e bate na trave, ou vai para fora. E continua dois a zero. Mais aí, a gente empatou antes do intervalo. Logo no primeiro minuto do segundo tempo, nós fizemos 3 a 2 e 4 a 2. Aí o Coritiba fez o terceiro e ficou martelando até o fim do jogo. Para mim aquele foi um Atle-Tiba especial", descreveu de maneira humorada Sicupira.
Agora, com o primeiro clássico de 2015 se aproximando, o desejo dos dois ídolos do futebol paranaense, que têm das duas torcidas um respeito mútuo e sincero, é que o Atle-Tiba seja de paz, como era antigamente.
"Eu espero que o Atle-Tiba seja bem disputado. O que a gente mais sente é você olhar para a torcida e não ver crianças com os pais. As famílias saindo tranquilas com os filhos vestindo as camisas dos seus clubes. Que todos se respeitem. Que haja uma união comigo querendo o verde e o branco e ele [Sicupira] querendo o vermelho e o preto. Gosto e cor não se discute, mas o respeito tem que existir. A partir do momento que existir respeito, como antigamente se tinha, nós realmente vamos voltar a ter aquela felicidade que tínhamos", ressaltou Krüger que lembrou da vontade em ver ainda mais famílias nos estádios.
"O respeito no jogo é o respeito na vida. Você tem que respeitar o espaço da pessoa, a individualidade da pessoa. É só uma extensão da vida para o futebol", complementou Sicupira.
Confira aqui a entrevista completa:
Na Boca Maldita, no coração de Curitiba, alguns curiosos pararam para ver uma movimentação diferente do cotidiano de um dia qualquer. Logo alguém já reconheceu de longe: "Sicupira e Krüger, que bom ver vocês juntos!", disse um senhor, acenando para a dupla de ex-jogadores e hoje lendas vivas do futebol paranaense.
É certo que nem Barcímio Sicupira Junior e Dirceu Krüger nunca jogaram na mesma equipe (exceto na Seleção Paranaense), mas não é por isso que não dividiram os gramados. Mas naqueles tempos... Naqueles tempos em que os dois eram atletas, mais precisamente entre as décadas de 60 e 70, o glamour do futebol era diferente, a forma de jogar também porém, mais diferentes ainda eram os Atle-Tibas.
Ídolos da dupla Atle-Tiba, os dois ex-atletas justamente relembraram os tempos em que entravam em campo e que a relação entre os clubes era mais próxima. "A gente jogava contra no domingo de tarde e no domingo de noite, se a gente se encontrasse, a gente tomava um chopp. Tinha a disputa dentro de campo e terminava o jogo, ganhasse quem ganhasse, terminava ali. E era uma delícia, a gente participava com a torcida", lembrou Sicupira.
"Quando saíamos do Couto Pereira, era dividido ao meio, só tinha uma corda, era metade da torcida para cada lado e não tinha uma confusão. Saíam as duas torcidas pela Mauá, juntas, independente do resultado e saíam conversando", complementou Krüger.
Uma memória de um tempo que faz falta nos dois senhores, que hoje acompanham seus times do coração cada um a sua maneira. Krüger continua sendo funcionário do Coritiba e Sicupira é comentarista esportivo, com destaque na Banda B.
E quando o tópico é um Atle-Tiba especial. Cada um lembra de um, assim como as torcidas dos dois times. Do lado coxa-branca, Krüger lembra do 5 a 0, de 1967. "Foi um jogo extraordinário e não foi pelo 5 a 0 que não tenha sido um jogo sensacional. Foi um clássico, um dos melhores. E nós tivemos a felicidade de ganhar de 5 a 0, porque aproveitamos a oportunidade nesse jogo. Eu lembro que nessa ocasião, nesse jogo, eu dei um drible que eu fiquei até meio sem saber como foi. Eu dei um drible no Charão, com o olhar. E aí foi caixa!", recordou o Flecha Loira.
Já para Sicupira, em 1971, o resultado de 4 a 3 para o Atlético-PR, é o Atle-Tiba inesquecível. "O Coritiba começou ganhando de dois a zero. Aí o Passarinho fez dois gols e acabou. Aí pênalti contra o Coritiba e o Nilson Borges que bateu. Era para eu bater, mas eu dei uma 'pipocadinha', disse que o joelho estava doendo. Mas é que tinha 50 mil pessoas no Couto, perdendo de 2 a 0. Eu vou lá e perco o pênalti, como é que fica? E o Nilson vai e bate na trave, ou vai para fora. E continua dois a zero. Mais aí, a gente empatou antes do intervalo. Logo no primeiro minuto do segundo tempo, nós fizemos 3 a 2 e 4 a 2. Aí o Coritiba fez o terceiro e ficou martelando até o fim do jogo. Para mim aquele foi um Atle-Tiba especial", descreveu de maneira humorada Sicupira.
Agora, com o primeiro clássico de 2015 se aproximando, o desejo dos dois ídolos do futebol paranaense, que têm das duas torcidas um respeito mútuo e sincero, é que o Atle-Tiba seja de paz, como era antigamente.
"Eu espero que o Atle-Tiba seja bem disputado. O que a gente mais sente é você olhar para a torcida e não ver crianças com os pais. As famílias saindo tranquilas com os filhos vestindo as camisas dos seus clubes. Que todos se respeitem. Que haja uma união comigo querendo o verde e o branco e ele [Sicupira] querendo o vermelho e o preto. Gosto e cor não se discute, mas o respeito tem que existir. A partir do momento que existir respeito, como antigamente se tinha, nós realmente vamos voltar a ter aquela felicidade que tínhamos", ressaltou Krüger que lembrou da vontade em ver ainda mais famílias nos estádios.
"O respeito no jogo é o respeito na vida. Você tem que respeitar o espaço da pessoa, a individualidade da pessoa. É só uma extensão da vida para o futebol", complementou Sicupira.
Confira aqui a entrevista completa: