Meu nome é Gerd Seidel, sou Engenheiro Mecânico e nos anos de 1969 e 1970 morei na cidade de Amberg no sudeste da Alemanha absolvendo um estágio de 2 anos na unidade fabril da Siemens AG naquela cidade. Mantive contato regularmente com meus pais, que sempre me enviavam a edição de segunda-feira da Tribuna do Paraná, para poder acompanhar semanalmente a atuação do meu querido Coritiba.
Desta forma tomei conhecimento da excursão de 1969 do Coxa ao Velho Mundo, mas, como recebia apenas 1 jornal por semana, me faltavam os detalhes referentes às partidas. Após várias visitas à redação do jornal de Amberg consegui que estes me cedessem uma senha que permitia meu contato com o departamento de esportes de uma agência de notícias localizada em Duesseldorf. Era possível então definir quando e onde pudesse matar saudades do meu Verdão. O jogo que menos transtornos causaria na esfera profissional era a partida em Dortmund, no dia 08/08/1969.
No dia anterior ao jogo pus meu fusquinha na estrada para rodar os 550 km entre Amberg e Dortmund. Acabei pernoitando em Gelsenkirchen, cidade vizinha de Dortmund,
No dia do jogo, logo após o almoço tentei encontrar a delegação coritibana. Fui às redações dos jornais de Dortmund, à sede e subsede da Borussia Dortmund e, finalmente, ao estádio. Não encontrei ninguém capaz de me informar em qual hotel o Coritiba estava hospedado. A única informação positiva veio de um jardineiro do estádio, que me indicou o portão, pelo qual as equipes visitantes chegariam facilmente ao vestiário.
Fiquei então aguardando ali, mantendo a esperança de que a informação do jardineiro estivesse correta. Finalmente surge o ônibus do Coritiba. O primeiro a descer foi o Munir Calluf, que me reconheceu do período no qual eu participava da gestão da Associação Atlética Acadêmica de Engenharia e que me apresentou ao nosso eterno Presidente Evangelino Costa Neves e ao Presidente da Federação Paranaense de Futebol, sr. José Milani. O Presidente Evangelino convidou-me para assistir ao jogo da tribuna destinada à delegação verde e branca. Fiquei bastante emocionado e feliz. Minha felicidade aumentou ainda mais quando o radialista Vinícius Coelho, que narrou todas as partidas do Coxa nesta excursão, solicitou de mim alguns dados pessoais, já que iria mandar, durante a transmissão, uma mensagem para meus pais. Pudemos sentir aí a força de comunicação do Vinícius Coelho, que conseguiu mobilizar um grande número de ouvintes, que durante os três dias seguintes, congestionaram a linha telefônica e/ou vieram visitar meus pais para falar do recado.
Estávamos nos instalando na tribuna, quando veio em nossa direção um senhor, que reconheci como sendo o Sr. Rudi Gutendorf, que na época era treinador do Schalke 04, ferrenho rival da Borussia Dortmund. Ele apresentou-se, e o nosso Presidente Evangelino autorizou-me a conversar com o sr. Gutendorf e este pediu transmitir à Diretoria o seguinte:
Ele (Gutendorf) assistiu ao jogo do Coxa contra o Colônia e ficou altamente bem impressionado com a qualidade de nossa equipe e que, em condições normais, poderíamos derrotar a Borussia a qualquer hora.
Porém neste dia não teríamos condições normais. De uma fonte segura o sr. Gutendorf recebeu a informação de que houve um acerto com o árbitro da partida, para que fosse impedido um sucesso coritibano. O argumento era, de que um triunfo coxa (clube desconhecido em nível internacional) seria altamente negativo para a imagem da Borussia, em face de sua conquista do Mundial de Clubes em 1967. Como consolo teriamos críticas benevolentes nos jornais da região.
Ele (Gutendorf) decidiu informar a Diretoria do Coritiba, para que os nossos jogadores fossem orientados a não se exaltar com as estranhas manobras do árbitro; e sim, que praticassem seu futebol sem pensar no resultado mas no espetáculo esperado pelo numeroso público. Relatei esta conversa ao Presidente Evangelino e este me pediu para descer ao vestiário e transmitir ao técnico Francisco Sarno e aos jogadores o teor da informação recebida. Foi uma revolta só e logo surgiu o espírito do "vamos mostrar a eles". A pedido do nosso técnico tive ainda a oportunidade de alertar a respeito do modo de atuar da Borussia, principalmente da dupla de ataque "Siggi" Held (meia-esquerda) e Lothar "Emma" Emmerich (ponta-esquerda), titularíssimos também na seleção alemã, e responsáveis pela maioria dos gols do time alemão. Held era responsável em carregar a bola até a intermediária contrária onde procurava uma brecha que permitisse ao Lothar Emmerich disparar seu violentíssimo torpedo. As instruções que o técnico Francisco Sarno passou para o lateral Marinho, o zagueiro Nico e o goleiro Joel Mendes, fizeram a dupla passar a noite em branco.
O jogo em si foi excelente, com domínio coxa-branca, principalmente na segunda etapa. O árbitro agiu conforme anunciado pelo sr. Rudi Gutendorf, marcando escandalosamente, logo no início do jogo, a penalidade inexistente, atribuída ao zagueiro Nico, que definiu o placar. Cada ataque coxa era convertido em impedimento, mesmo tendo partido do próprio meio de campo, como fez Krüger num lance sensacional no segundo tempo. Também merece destaque a tranquilidade do Joel Mendes que, por um triz, não defende o penalti, cobrado pelo capitão da equipe alemã, bem como um tirambaço do zagueiro Roderley, disparado do círculo central, que explodiu no travessão e retornou ao próprio Roderley.
Terminada a partida ajudei ainda na distribuição de brindes do Coritiba, bem como na tradução dos pequenos contatos entre torcedores locais e nossos jogadores, com destaque para o ponta Oromar, incansável na divulgação, por meio de uma coleção de cartões postais, de sua cidade natal Paranaguá, e para o meia Paulo Vecchio, campeão no consumo de refrigerantes.
Gerd Seidel
Meu nome é Gerd Seidel, sou Engenheiro Mecânico e nos anos de 1969 e 1970 morei na cidade de Amberg no sudeste da Alemanha absolvendo um estágio de 2 anos na unidade fabril da Siemens AG naquela cidade. Mantive contato regularmente com meus pais, que sempre me enviavam a edição de segunda-feira da Tribuna do Paraná, para poder acompanhar semanalmente a atuação do meu querido Coritiba.
Desta forma tomei conhecimento da excursão de 1969 do Coxa ao Velho Mundo, mas, como recebia apenas 1 jornal por semana, me faltavam os detalhes referentes às partidas. Após várias visitas à redação do jornal de Amberg consegui que estes me cedessem uma senha que permitia meu contato com o departamento de esportes de uma agência de notícias localizada em Duesseldorf. Era possível então definir quando e onde pudesse matar saudades do meu Verdão. O jogo que menos transtornos causaria na esfera profissional era a partida em Dortmund, no dia 08/08/1969.
No dia anterior ao jogo pus meu fusquinha na estrada para rodar os 550 km entre Amberg e Dortmund. Acabei pernoitando em Gelsenkirchen, cidade vizinha de Dortmund,
No dia do jogo, logo após o almoço tentei encontrar a delegação coritibana. Fui às redações dos jornais de Dortmund, à sede e subsede da Borussia Dortmund e, finalmente, ao estádio. Não encontrei ninguém capaz de me informar em qual hotel o Coritiba estava hospedado. A única informação positiva veio de um jardineiro do estádio, que me indicou o portão, pelo qual as equipes visitantes chegariam facilmente ao vestiário.
Fiquei então aguardando ali, mantendo a esperança de que a informação do jardineiro estivesse correta. Finalmente surge o ônibus do Coritiba. O primeiro a descer foi o Munir Calluf, que me reconheceu do período no qual eu participava da gestão da Associação Atlética Acadêmica de Engenharia e que me apresentou ao nosso eterno Presidente Evangelino Costa Neves e ao Presidente da Federação Paranaense de Futebol, sr. José Milani. O Presidente Evangelino convidou-me para assistir ao jogo da tribuna destinada à delegação verde e branca. Fiquei bastante emocionado e feliz. Minha felicidade aumentou ainda mais quando o radialista Vinícius Coelho, que narrou todas as partidas do Coxa nesta excursão, solicitou de mim alguns dados pessoais, já que iria mandar, durante a transmissão, uma mensagem para meus pais. Pudemos sentir aí a força de comunicação do Vinícius Coelho, que conseguiu mobilizar um grande número de ouvintes, que durante os três dias seguintes, congestionaram a linha telefônica e/ou vieram visitar meus pais para falar do recado.
Estávamos nos instalando na tribuna, quando veio em nossa direção um senhor, que reconheci como sendo o Sr. Rudi Gutendorf, que na época era treinador do Schalke 04, ferrenho rival da Borussia Dortmund. Ele apresentou-se, e o nosso Presidente Evangelino autorizou-me a conversar com o sr. Gutendorf e este pediu transmitir à Diretoria o seguinte:
Ele (Gutendorf) assistiu ao jogo do Coxa contra o Colônia e ficou altamente bem impressionado com a qualidade de nossa equipe e que, em condições normais, poderíamos derrotar a Borussia a qualquer hora.
Porém neste dia não teríamos condições normais. De uma fonte segura o sr. Gutendorf recebeu a informação de que houve um acerto com o árbitro da partida, para que fosse impedido um sucesso coritibano. O argumento era, de que um triunfo coxa (clube desconhecido em nível internacional) seria altamente negativo para a imagem da Borussia, em face de sua conquista do Mundial de Clubes em 1967. Como consolo teriamos críticas benevolentes nos jornais da região.
Ele (Gutendorf) decidiu informar a Diretoria do Coritiba, para que os nossos jogadores fossem orientados a não se exaltar com as estranhas manobras do árbitro; e sim, que praticassem seu futebol sem pensar no resultado mas no espetáculo esperado pelo numeroso público. Relatei esta conversa ao Presidente Evangelino e este me pediu para descer ao vestiário e transmitir ao técnico Francisco Sarno e aos jogadores o teor da informação recebida. Foi uma revolta só e logo surgiu o espírito do "vamos mostrar a eles". A pedido do nosso técnico tive ainda a oportunidade de alertar a respeito do modo de atuar da Borussia, principalmente da dupla de ataque "Siggi" Held (meia-esquerda) e Lothar "Emma" Emmerich (ponta-esquerda), titularíssimos também na seleção alemã, e responsáveis pela maioria dos gols do time alemão. Held era responsável em carregar a bola até a intermediária contrária onde procurava uma brecha que permitisse ao Lothar Emmerich disparar seu violentíssimo torpedo. As instruções que o técnico Francisco Sarno passou para o lateral Marinho, o zagueiro Nico e o goleiro Joel Mendes, fizeram a dupla passar a noite em branco.
O jogo em si foi excelente, com domínio coxa-branca, principalmente na segunda etapa. O árbitro agiu conforme anunciado pelo sr. Rudi Gutendorf, marcando escandalosamente, logo no início do jogo, a penalidade inexistente, atribuída ao zagueiro Nico, que definiu o placar. Cada ataque coxa era convertido em impedimento, mesmo tendo partido do próprio meio de campo, como fez Krüger num lance sensacional no segundo tempo. Também merece destaque a tranquilidade do Joel Mendes que, por um triz, não defende o penalti, cobrado pelo capitão da equipe alemã, bem como um tirambaço do zagueiro Roderley, disparado do círculo central, que explodiu no travessão e retornou ao próprio Roderley.
Terminada a partida ajudei ainda na distribuição de brindes do Coritiba, bem como na tradução dos pequenos contatos entre torcedores locais e nossos jogadores, com destaque para o ponta Oromar, incansável na divulgação, por meio de uma coleção de cartões postais, de sua cidade natal Paranaguá, e para o meia Paulo Vecchio, campeão no consumo de refrigerantes.
Gerd Seidel