O Coritiba entra em campo neste domingo (21), diante do Santos, buscando o bom resultado fora de casa. Antes disso, o jornalista Gonçalo Junior, do jornal O Estado de S. Paulo, bateu um papo com o meia Alex, que falou sobre o jogo de hoje, sobre sua carreira, futebol brasileiro, e muito mais.
Confira na íntegra a entrevista:
SÃO PAULO - Alex trata as ideias e as palavras com o mesmo carinho que dedica à bola, sua amiga do peito em 18 anos de carreira. Ele domina os substantivos com classe, recorre às suas leituras e constrói pensamentos claros como as jogadas que alçaram o Coritiba às primeiras posições do Campeonato Brasileiro. Essa habilidade em gramados variados – futebol, política, sociedade e cultura – não é nova e deixou saudades no Palmeiras, no Cruzeiro e no Fenerbahçe. A boa nova que Alex traz nesta entrevista ao Estado é que o tempo lhe fez bem. Dentro e fora do futebol.
ESTADO – Você ficou quase nove anos na Turquia e, em seis meses, já se encaixou no time do Coritiba. Como conseguiu?
ALEX - Eu cheguei ao Coritiba em outubro, mas não podia estrear por causa do regulamento. Fiquei observando os treinamentos e os jogos, sem a responsabilidade de atuar. Com isso, consegui comparar o que vivi na Turquia à nova realidade. Isso foi fundamental.
ESTADO – Existem diferenças entre o futebol brasileiro e o turco?
ALEX - Sim. É como se fossem esportes diferentes. Tudo é diferente. A imprensa, o público, os treinos, as orientações dos treinadores, a parte tática, a técnica…
ESTADO – O futebol brasileiro mudou enquanto você esteve fora?
ALEX - Muito, principalmente no aspecto tático. Os técnicos estão copiando o modo europeu de jogar.
ESTADO – Como assim?
ALEX - Historicamente, os europeus ocupam bem o campo. Faz parte da cultura deles. Hoje, os treinadores brasileiros querem copiar, por exemplo, a escalação de jogadores pelos lados. Não temos jogadores com essas características, mas os treinadores insistem em copiar esse modo de jogar.
ESTADO – Por que fazem isso?
ALEX - Não sei explicar. Existem várias formas de atuar. Acho que precisamos retomar a escola brasileira. O principal fator do futebol brasileiro é voltar a jogar como Brasil.
ESTADO – Como é essa escola brasileira?
ALEX - É o futebol que vi na minha infância e juventude. Times que valorizam, protegem e tratam bem a bola, com jogadores de boa qualidade. Temos de manter a nossa essência e, claro, unir situações novas.
ESTADO – A vitória do Brasil sobre a Espanha na Copa das Confederações é um exemplo da essência do futebol brasileiro?
ALEX - A seleção conseguiu unir sua essência às novas exigências do futebol moderno. O Oscar é habilidoso e inteligente e representa nossas origens. O Hulk é um jogador que preenche bem os lados do campo, como os europeus. Ele, por sinal, não teve a valorização que merecia. Afinal, não fez gol. Temos dois excelentes zagueiros, volantes que marcam e sabem jogar e, para completar, o Neymar, um jogador acima da média. Foi uma vitória importante, que fortaleceu o grupo e trouxe uma grande alegria para o povo. O futebol envolve a parte social e vivemos um momento complicado.
ESTADO – Você acha que ainda tem lugar na seleção em 2014?
ALEX - Não. Minha última participação na seleção foi em 2006. Faz sete anos. É muito tempo sem ser convocado.
ESTADO – Você falou em “momento complicado” na Copa das Confederações. Ficou surpreso com as manifestações?
ALEX - Não fiquei surpreso. O povo brasileiro é muito paciente. Temos uma série de escândalos em que políticos renomados, raposas da política, foram julgados e condenados. Nesse momento, o povo chegou ao seu limite. Nós temíamos que a democracia virasse anarquia, como aconteceu em alguns momentos. Mas foi um momento importante da política. Tenho amigos políticos que ficaram assustados. Foi um momento interessante e espero que não pare por aí.
ESTADO – Espera novos protestos?
ALEX - Temos eleições no ano que vem. A maneira como as pessoas vão votar será o fechamento das manifestações. Os problemas sociais precisam diminuir e o Brasil precisa evoluir rapidamente.
ESTADO – Turquia e Brasil são nações parecidas?
ALEX – Sim. Os turcos também têm problemas sociais. Quem tem uma boa condição financeira, tem acesso aos melhores serviços em saúde e educação. Quem não tem condições, sofre. Como aqui. Existem duas diferenças principais. A maneira de governar e a questão da segurança. Na Turquia, a sensação de impunidade é bem menor. Acho que isso acontece por causa da presença forte do exército, atuante desde a fundação da república, em 1924. Em alguns momentos, eles até atuam com força exagerada.
ESTADO – Você tem facilidade para falar sobre vários assuntos…
ALEX - Eu leio bastante, gosto de jornais e programas de notícias. Mas não costumo me preparar para as entrevistas. Uma entrevista é mais ou menos como uma conversa com um amigo. Gosto de trocar ideias.
ESTADO – Quais suas ideias sobre o Coritiba? Aonde o time pode chegar?
ALEX - Nossa meta é conquistar uma vaga na Libertadores. É possível. Provavelmente existem times melhores, mas vamos ao limite para conseguir a vaga. É um campeonato longo, que vai exigir muito do elenco. Nas próximas rodadas, quando começarem os jogos às quartas e domingos, teremos uma visão melhor. Temos os pés no chão.
ESTADO – É possível vencer o Santos na Vila Belmiro?
ALEX - Queremos jogar bem. Um jogo tem inúmeras variações que não podem ser previstas. Vamos à Vila para ganhar o jogo.
ESTADO – Qual é o ponto forte do time?
ALEX - Saber suas limitações. Temos uma leitura real do que podemos render e dos nossos limites. Às vezes, os times se perdem com seu real poder.
ESTADO – E o ponto fraco?
ALEX - Precisamos vencer fora de casa. Disputamos nove pontos fora e perdemos seis. Foram três empates. Sabemos que é uma utopia imaginar que teremos 100% de aproveitamento no Couto Pereira. Por isso, precisamos começar a vencer fora.
ESTADO -E quais são os seus pontos fortes e fracos? Qual é a crítica que tira você do sério?
ALEX - Nenhuma. Cheguei a uma fase em que compreendo que a função do jornalista ou comentarista é emitir a opinião, que pode variar muito. É impossível agradar a todos.
ESTADO – E o que você gosta de ouvir?
ALEX - Nenhum elogio específico também. Eu sei se joguei bem ou se joguei mal. Tenho autoanálise muito fria e rigorosa. Ao longo da minha carreira, sempre quis ser respeitado. E consegui. No Coritiba, no Palmeiras, no Cruzeiro e na Turquia as pessoas me respeitam. Talvez não tenha conseguido isso no Flamengo porque não tive tempo. Talvez seja uma frustração.
ESTADO – Depois de tantas conquistas, você tem algum sonho?
ALEX - Conquistar um título nacional com o Coritiba.
ESTADO – Tem planos para o futuro?
ALEX - Tenho contrato até dezembro de 2014 e, quando chegar lá, vou ver como estou. Fora de campo, estou iniciando minha biografia.
ESTADO – E a aposentadoria?
ALEX - Quero aperfeiçoar meu inglês e tirar licença para ser treinador. Se surgir uma oportunidade, quero estar preparado. Não vou sair procurando emprego. Quero ver se tenho perfil.
ESTADO – O que um jogador de futebol ganha quando envelhece?
ALEX - Temos uma leitura melhor do que acontece dentro e fora de campo. Fica mais fácil enxergar os espaços. Fora de campo, percebemos que as coisas são repetidas. Não me iludo tanto com as vitórias e as derrotas.
ESTADO – E do ponto de vista físico?
ALEX - Os jogadores de velocidade e força precisam se refazer e se reinventar com a idade. Se são fortes aos 21, não o serão aos 34. Eu brinco com os amigos dizendo que eu não tinha força, nem velocidade, quando era mais jovem e agora continuo do mesmo jeito. Não precisei reinventar o meu jogo. Fui sempre o mesmo.
O Coritiba entra em campo neste domingo (21), diante do Santos, buscando o bom resultado fora de casa. Antes disso, o jornalista Gonçalo Junior, do jornal O Estado de S. Paulo, bateu um papo com o meia Alex, que falou sobre o jogo de hoje, sobre sua carreira, futebol brasileiro, e muito mais.
Confira na íntegra a entrevista:
SÃO PAULO - Alex trata as ideias e as palavras com o mesmo carinho que dedica à bola, sua amiga do peito em 18 anos de carreira. Ele domina os substantivos com classe, recorre às suas leituras e constrói pensamentos claros como as jogadas que alçaram o Coritiba às primeiras posições do Campeonato Brasileiro. Essa habilidade em gramados variados – futebol, política, sociedade e cultura – não é nova e deixou saudades no Palmeiras, no Cruzeiro e no Fenerbahçe. A boa nova que Alex traz nesta entrevista ao Estado é que o tempo lhe fez bem. Dentro e fora do futebol.
ESTADO – Você ficou quase nove anos na Turquia e, em seis meses, já se encaixou no time do Coritiba. Como conseguiu?
ALEX - Eu cheguei ao Coritiba em outubro, mas não podia estrear por causa do regulamento. Fiquei observando os treinamentos e os jogos, sem a responsabilidade de atuar. Com isso, consegui comparar o que vivi na Turquia à nova realidade. Isso foi fundamental.
ESTADO – Existem diferenças entre o futebol brasileiro e o turco?
ALEX - Sim. É como se fossem esportes diferentes. Tudo é diferente. A imprensa, o público, os treinos, as orientações dos treinadores, a parte tática, a técnica…
ESTADO – O futebol brasileiro mudou enquanto você esteve fora?
ALEX - Muito, principalmente no aspecto tático. Os técnicos estão copiando o modo europeu de jogar.
ESTADO – Como assim?
ALEX - Historicamente, os europeus ocupam bem o campo. Faz parte da cultura deles. Hoje, os treinadores brasileiros querem copiar, por exemplo, a escalação de jogadores pelos lados. Não temos jogadores com essas características, mas os treinadores insistem em copiar esse modo de jogar.
ESTADO – Por que fazem isso?
ALEX - Não sei explicar. Existem várias formas de atuar. Acho que precisamos retomar a escola brasileira. O principal fator do futebol brasileiro é voltar a jogar como Brasil.
ESTADO – Como é essa escola brasileira?
ALEX - É o futebol que vi na minha infância e juventude. Times que valorizam, protegem e tratam bem a bola, com jogadores de boa qualidade. Temos de manter a nossa essência e, claro, unir situações novas.
ESTADO – A vitória do Brasil sobre a Espanha na Copa das Confederações é um exemplo da essência do futebol brasileiro?
ALEX - A seleção conseguiu unir sua essência às novas exigências do futebol moderno. O Oscar é habilidoso e inteligente e representa nossas origens. O Hulk é um jogador que preenche bem os lados do campo, como os europeus. Ele, por sinal, não teve a valorização que merecia. Afinal, não fez gol. Temos dois excelentes zagueiros, volantes que marcam e sabem jogar e, para completar, o Neymar, um jogador acima da média. Foi uma vitória importante, que fortaleceu o grupo e trouxe uma grande alegria para o povo. O futebol envolve a parte social e vivemos um momento complicado.
ESTADO – Você acha que ainda tem lugar na seleção em 2014?
ALEX - Não. Minha última participação na seleção foi em 2006. Faz sete anos. É muito tempo sem ser convocado.
ESTADO – Você falou em “momento complicado” na Copa das Confederações. Ficou surpreso com as manifestações?
ALEX - Não fiquei surpreso. O povo brasileiro é muito paciente. Temos uma série de escândalos em que políticos renomados, raposas da política, foram julgados e condenados. Nesse momento, o povo chegou ao seu limite. Nós temíamos que a democracia virasse anarquia, como aconteceu em alguns momentos. Mas foi um momento importante da política. Tenho amigos políticos que ficaram assustados. Foi um momento interessante e espero que não pare por aí.
ESTADO – Espera novos protestos?
ALEX - Temos eleições no ano que vem. A maneira como as pessoas vão votar será o fechamento das manifestações. Os problemas sociais precisam diminuir e o Brasil precisa evoluir rapidamente.
ESTADO – Turquia e Brasil são nações parecidas?
ALEX – Sim. Os turcos também têm problemas sociais. Quem tem uma boa condição financeira, tem acesso aos melhores serviços em saúde e educação. Quem não tem condições, sofre. Como aqui. Existem duas diferenças principais. A maneira de governar e a questão da segurança. Na Turquia, a sensação de impunidade é bem menor. Acho que isso acontece por causa da presença forte do exército, atuante desde a fundação da república, em 1924. Em alguns momentos, eles até atuam com força exagerada.
ESTADO – Você tem facilidade para falar sobre vários assuntos…
ALEX - Eu leio bastante, gosto de jornais e programas de notícias. Mas não costumo me preparar para as entrevistas. Uma entrevista é mais ou menos como uma conversa com um amigo. Gosto de trocar ideias.
ESTADO – Quais suas ideias sobre o Coritiba? Aonde o time pode chegar?
ALEX - Nossa meta é conquistar uma vaga na Libertadores. É possível. Provavelmente existem times melhores, mas vamos ao limite para conseguir a vaga. É um campeonato longo, que vai exigir muito do elenco. Nas próximas rodadas, quando começarem os jogos às quartas e domingos, teremos uma visão melhor. Temos os pés no chão.
ESTADO – É possível vencer o Santos na Vila Belmiro?
ALEX - Queremos jogar bem. Um jogo tem inúmeras variações que não podem ser previstas. Vamos à Vila para ganhar o jogo.
ESTADO – Qual é o ponto forte do time?
ALEX - Saber suas limitações. Temos uma leitura real do que podemos render e dos nossos limites. Às vezes, os times se perdem com seu real poder.
ESTADO – E o ponto fraco?
ALEX - Precisamos vencer fora de casa. Disputamos nove pontos fora e perdemos seis. Foram três empates. Sabemos que é uma utopia imaginar que teremos 100% de aproveitamento no Couto Pereira. Por isso, precisamos começar a vencer fora.
ESTADO -E quais são os seus pontos fortes e fracos? Qual é a crítica que tira você do sério?
ALEX - Nenhuma. Cheguei a uma fase em que compreendo que a função do jornalista ou comentarista é emitir a opinião, que pode variar muito. É impossível agradar a todos.
ESTADO – E o que você gosta de ouvir?
ALEX - Nenhum elogio específico também. Eu sei se joguei bem ou se joguei mal. Tenho autoanálise muito fria e rigorosa. Ao longo da minha carreira, sempre quis ser respeitado. E consegui. No Coritiba, no Palmeiras, no Cruzeiro e na Turquia as pessoas me respeitam. Talvez não tenha conseguido isso no Flamengo porque não tive tempo. Talvez seja uma frustração.
ESTADO – Depois de tantas conquistas, você tem algum sonho?
ALEX - Conquistar um título nacional com o Coritiba.
ESTADO – Tem planos para o futuro?
ALEX - Tenho contrato até dezembro de 2014 e, quando chegar lá, vou ver como estou. Fora de campo, estou iniciando minha biografia.
ESTADO – E a aposentadoria?
ALEX - Quero aperfeiçoar meu inglês e tirar licença para ser treinador. Se surgir uma oportunidade, quero estar preparado. Não vou sair procurando emprego. Quero ver se tenho perfil.
ESTADO – O que um jogador de futebol ganha quando envelhece?
ALEX - Temos uma leitura melhor do que acontece dentro e fora de campo. Fica mais fácil enxergar os espaços. Fora de campo, percebemos que as coisas são repetidas. Não me iludo tanto com as vitórias e as derrotas.
ESTADO – E do ponto de vista físico?
ALEX - Os jogadores de velocidade e força precisam se refazer e se reinventar com a idade. Se são fortes aos 21, não o serão aos 34. Eu brinco com os amigos dizendo que eu não tinha força, nem velocidade, quando era mais jovem e agora continuo do mesmo jeito. Não precisei reinventar o meu jogo. Fui sempre o mesmo.