Chegou o Carnaval 2015! O calendário do futebol paranaense tem uma pausa de jogos e todos se preparam para aproveitar as festas. As marchinhas já começam a tocar por todos os lados e os mais saudosistas recordam-se dos "bons tempos" dos carnavais de salão na capital paranaense. E o coritiba.com.br voltou ao passado, lá no ano de 1949, quando surgiu o bloco de carnaval coxa-branca "Não Agite", que mais tarde passou a ser uma escola de samba das mais premiadas da época.
"Era um grupo querido, famoso, e tinha um nome bem pitoresco. Chamava Bloco Carnavalesco 'Não Agite'. E era uma união bem bacana de pessoas que não eram só ligadas ao Coritiba, pessoas que gostavam da diversão, do carnaval. O carnaval daqueles tempos era aquele que causava inveja para muita gente. Os bailes de salão do Coritiba eram considerados uns dos melhores do Brasil", é assim que Carlos Fernando Mazza, o "Mazzinha", resume o "Não Agite".
Mazzinha participou desde o início das atividades do bloco e esteve à frente de sua organização. Dante Mendonça define muito bem o envolvimento deste coxa-branca com o carnaval. "Carlos Fernando Mazza é o Mazzinha, o filho mais novo que chegou a ser presidente da Não Agite com apenas 17 anos, em 1965. Seguramente o melhor mestre-sala que o Rei Momo conheceu em Curitiba, quando morou no Rio de Janeiro Mazzinha tinha cadeira cativa na Mangueira e merecia respeito até do famoso Delegado, mestre-sala da Verde e Rosa que tirava o chapéu para o coxa-branca", apontou em seu artigo publicado no jornal Gazeta do Povo, da última sexta-feira (13).
O bloco que iniciou com seus participantes fantasiados de dominó, colombinas, arlequins, palhaços e todas as figuras carnavalescas, cresceu e virou escola de samba. E na bagagem deste crescimento, vieram os títulos e troféus da sociedade curitibana reconhecendo a grandeza do trabalho realizado na sede do clube social no Alto da Glória.
Entre confetes e gols
As vitórias em carnavais pareciam, inclusive, anunciar os títulos do Coritiba conquistados dentro das quatro linhas. Isso por que nos anos 68 e 69, o Coxa foi campeão primeiro com o 'Não Agite' e também levou a taça no Campeonato Paranaense. Já em 1970, como conta Mazzinha, por um motivo que ninguém de fato sabe, o título do carnaval não veio e em campo também.
"Nós perdemos o carnaval absurdamente, com um enredo que foi o melhor que nós fizemos em todos os tempos, que se chamava "Ciclo de Colonos do Paraná". Esse enredo até motivou uma peça montada para inaugurar o Teatro Guaíra, chamada "Paraná de todas as Gentes" e foi utilizado o enredo do 'Não Agite'", recordou-se.
E assim como o futebol, o carnaval se tornou uma paixão na vida de Mazzinho. Histórias e mais histórias foram escritas entre batuques e sambas enredos. "Era um grupo de muito amor por carnaval, por samba, por esse folclore maravilhoso brasileiro e pelo prazer nosso de estar incorporado ao Coritiba, que é o maior amor ainda. É uma coisa que faz parte da vida da gente", finalizou Mazzinha.
Confira a entrevista com Mazzinha:
Revista Cori 70 traz mais informações sobre o Não Agite
Confira na íntegra dois artigos sobre o Não Agite, publicados na Revista Cori 70, que retratam um pouco mais das atividades do bloco carnavalesco coxa-branca.
"Uma Escola de Samba com a vocação coritibana: em vinte anos oito faixas
Primeiro, como bruxas, príncipes e anões, figuras extraídas das narrativas de carochinha, e depois como espantalhos estilizados, o Bloco "Não Agite" venceu outra vez os carnavais de 1960 e 61, anos em que o Coritiba era também campeão de futebol. Mas enquanto o futebol obtinha o tri campeonato, o bloco alcançava o penta-campeonato. Essa co-relação é interessante que se faça porque há uma série de coincidências a marcar a vida do clube e da escola de samba que abriga.
Ainda êste ano, quando prejudicado pela Comissão Julgadora (a imprensa e a crítica especializada foram unânimes em apontá-lo como a melhor escola do desfile carnavalesco), o "Não Agite" perdeu o tri campeonato, muitos supersticiosos temeram pela sorte do Coritiba no futebol. E diziam: nos anos de 1962 a 67, o Coritiba ficou sem títulos a não ser o da zona sul e o "Não Agite" ganhou apenas em 1963. Em 1968 e 1969, juntamente com o clube no campeonato, obteve o bi, e agora já com características de escola de samba.
Em 1969 o enrêdo era alegórico ao samba-candomblé, mostrando as identidades culturais afro-brasileiras de nossa música popular. Era um desfile maravilhoso de xangôs, iemanjás, oxóssis, oguns, tudo com a coreografia segura do bailarino Jean Vardé. Em 1970 a experiência cultural foi mais longe: o enrêdo da escola de samba evocava os ciclos econômicos do Paraná, da fase do ouro, das tropas, da extração da madeira e do mate, até o ciclo do café e o da indústria. Um samba-enrêdo foi composto por Paulo Vítola, um poema carregado de aventura que recompõe a epopéia da história paranaense. Alguns cronistas viram no empenho da escola de samba em superar-se o mesmo esfôrço do clube para impor-se como uma potência real do futebol brasileiro. Daí a lembrança assustada dos supersticiosos. O Coritiba, 19 vezes nêsses 61 anos. O "Não Agite", em 20 anos botou a faixa nos anos de 57-59-59-60 e em 1963 e recentemente em 1968-69. Ainda em 1956 levantou um concurso extra-oficial."
Revista Cori 70 - nº6
"Tri-Campeão também de Carnaval com o "Não Agite"
Discutia-se em 1950 se o Carnaval curitibano tinha morrido. Era o velho lugar comum de sempre. Já não existiam mais os "vassourinhas" e o bloco universitário do "vira-latas" esforçava-se para manter a animação nas tuas com o "Asas na Alegria", agrupamento da Aeronáutica. De um cordão de amigos que saíam com disfarces comuns nos bailes do Coritiba - então melhor Carnaval de salão da cidade - nasceria o bloco "Não Agite", ue curiosamente tinha entre os seus primeiros componentes adeptos de outros clubes de futebol, notadamente do Ferroviário como Clemente Comandulli, Luiz Fernando Azzua e Ronald Osti Pereira. A ideia nascera, porém, na casa de Neil Hamilton Schettini (Tica) já no ano de 1948, tendo sido concretizada a fundação em janeiro de 1949. Em 1959 o bloco participava pela primeira vez das manifestações de rua e como não houve concurso oficial ganhou duas taças oferecidas por sociedades. No ano seguinte, ainda sem fantasia, com calça azul e blusa vermelha, ganhou mais duas taças e animou durante dois dias o carnaval de Irati. Em 1952, entre 12 concorrentes, faz sétimo lugar e a cidade começava a gostar do bloco dos "coringas", pois usavam a fantasia de um herói de "comics". Luiz Fernando Arzua, irmão de Hipólito, presidia o "Não Agite" durante êsses anos e no centenário havia 23 blocos no carnaval, uma disputa excepcional, na qual os nossos heróis fizeram sexto lugar. No ano seguinte, era terceiro, aparecendo com um carro alegórico que conduzia a sua rainha. Do 4º lugar em 1954, chega em 1955 ao 1º por escolha de jornais, pois não houve concurso. O bloco saira fantasiado de "baralho" e venceu a maratona lá no Círculo Militar. Em 1957, no "Carnaval Diferente", bolado pela Sociedade Thalia e "Tribuna do Paraná", ganha seu primeiro título oficial com luxuosas fantasias de palhaços. Em 1958 (fantasia de "Mister Samba") e em 1959 (de "mandarins") ganha o tri. Era o Coritiba repetindo no Carnaval o que seus atletas iam obtendo no campo de futebol.
De 1954 em diante o "Não Agite" se transformou na charanga do Coritiba. Isso aconteceu na decisão com a Esportiva de Jacarézinho que havia esnobado com sua fabulosa torcida organizada lá e aqui. Só que nesses tempos a "batucada" não podia comparecer completa, pois o Ronald Osti Pereira, o Luiz Fernando Arzua e outros colorados, bem como elementos da imprensa como o Boris Musialowski, só podiam ir no Carnaval. Aliás isso criou muita ciumeira e até algumas dificuldades para os rapazes".
Revista Cori 70 - nº5
Chegou o Carnaval 2015! O calendário do futebol paranaense tem uma pausa de jogos e todos se preparam para aproveitar as festas. As marchinhas já começam a tocar por todos os lados e os mais saudosistas recordam-se dos "bons tempos" dos carnavais de salão na capital paranaense. E o coritiba.com.br voltou ao passado, lá no ano de 1949, quando surgiu o bloco de carnaval coxa-branca "Não Agite", que mais tarde passou a ser uma escola de samba das mais premiadas da época.
"Era um grupo querido, famoso, e tinha um nome bem pitoresco. Chamava Bloco Carnavalesco 'Não Agite'. E era uma união bem bacana de pessoas que não eram só ligadas ao Coritiba, pessoas que gostavam da diversão, do carnaval. O carnaval daqueles tempos era aquele que causava inveja para muita gente. Os bailes de salão do Coritiba eram considerados uns dos melhores do Brasil", é assim que Carlos Fernando Mazza, o "Mazzinha", resume o "Não Agite".
Mazzinha participou desde o início das atividades do bloco e esteve à frente de sua organização. Dante Mendonça define muito bem o envolvimento deste coxa-branca com o carnaval. "Carlos Fernando Mazza é o Mazzinha, o filho mais novo que chegou a ser presidente da Não Agite com apenas 17 anos, em 1965. Seguramente o melhor mestre-sala que o Rei Momo conheceu em Curitiba, quando morou no Rio de Janeiro Mazzinha tinha cadeira cativa na Mangueira e merecia respeito até do famoso Delegado, mestre-sala da Verde e Rosa que tirava o chapéu para o coxa-branca", apontou em seu artigo publicado no jornal Gazeta do Povo, da última sexta-feira (13).
O bloco que iniciou com seus participantes fantasiados de dominó, colombinas, arlequins, palhaços e todas as figuras carnavalescas, cresceu e virou escola de samba. E na bagagem deste crescimento, vieram os títulos e troféus da sociedade curitibana reconhecendo a grandeza do trabalho realizado na sede do clube social no Alto da Glória.
Entre confetes e gols
As vitórias em carnavais pareciam, inclusive, anunciar os títulos do Coritiba conquistados dentro das quatro linhas. Isso por que nos anos 68 e 69, o Coxa foi campeão primeiro com o 'Não Agite' e também levou a taça no Campeonato Paranaense. Já em 1970, como conta Mazzinha, por um motivo que ninguém de fato sabe, o título do carnaval não veio e em campo também.
"Nós perdemos o carnaval absurdamente, com um enredo que foi o melhor que nós fizemos em todos os tempos, que se chamava "Ciclo de Colonos do Paraná". Esse enredo até motivou uma peça montada para inaugurar o Teatro Guaíra, chamada "Paraná de todas as Gentes" e foi utilizado o enredo do 'Não Agite'", recordou-se.
E assim como o futebol, o carnaval se tornou uma paixão na vida de Mazzinho. Histórias e mais histórias foram escritas entre batuques e sambas enredos. "Era um grupo de muito amor por carnaval, por samba, por esse folclore maravilhoso brasileiro e pelo prazer nosso de estar incorporado ao Coritiba, que é o maior amor ainda. É uma coisa que faz parte da vida da gente", finalizou Mazzinha.
Confira a entrevista com Mazzinha:
Revista Cori 70 traz mais informações sobre o Não Agite
Confira na íntegra dois artigos sobre o Não Agite, publicados na Revista Cori 70, que retratam um pouco mais das atividades do bloco carnavalesco coxa-branca.
"Uma Escola de Samba com a vocação coritibana: em vinte anos oito faixas
Primeiro, como bruxas, príncipes e anões, figuras extraídas das narrativas de carochinha, e depois como espantalhos estilizados, o Bloco "Não Agite" venceu outra vez os carnavais de 1960 e 61, anos em que o Coritiba era também campeão de futebol. Mas enquanto o futebol obtinha o tri campeonato, o bloco alcançava o penta-campeonato. Essa co-relação é interessante que se faça porque há uma série de coincidências a marcar a vida do clube e da escola de samba que abriga.
Ainda êste ano, quando prejudicado pela Comissão Julgadora (a imprensa e a crítica especializada foram unânimes em apontá-lo como a melhor escola do desfile carnavalesco), o "Não Agite" perdeu o tri campeonato, muitos supersticiosos temeram pela sorte do Coritiba no futebol. E diziam: nos anos de 1962 a 67, o Coritiba ficou sem títulos a não ser o da zona sul e o "Não Agite" ganhou apenas em 1963. Em 1968 e 1969, juntamente com o clube no campeonato, obteve o bi, e agora já com características de escola de samba.
Em 1969 o enrêdo era alegórico ao samba-candomblé, mostrando as identidades culturais afro-brasileiras de nossa música popular. Era um desfile maravilhoso de xangôs, iemanjás, oxóssis, oguns, tudo com a coreografia segura do bailarino Jean Vardé. Em 1970 a experiência cultural foi mais longe: o enrêdo da escola de samba evocava os ciclos econômicos do Paraná, da fase do ouro, das tropas, da extração da madeira e do mate, até o ciclo do café e o da indústria. Um samba-enrêdo foi composto por Paulo Vítola, um poema carregado de aventura que recompõe a epopéia da história paranaense. Alguns cronistas viram no empenho da escola de samba em superar-se o mesmo esfôrço do clube para impor-se como uma potência real do futebol brasileiro. Daí a lembrança assustada dos supersticiosos. O Coritiba, 19 vezes nêsses 61 anos. O "Não Agite", em 20 anos botou a faixa nos anos de 57-59-59-60 e em 1963 e recentemente em 1968-69. Ainda em 1956 levantou um concurso extra-oficial."
Revista Cori 70 - nº6
"Tri-Campeão também de Carnaval com o "Não Agite"
Discutia-se em 1950 se o Carnaval curitibano tinha morrido. Era o velho lugar comum de sempre. Já não existiam mais os "vassourinhas" e o bloco universitário do "vira-latas" esforçava-se para manter a animação nas tuas com o "Asas na Alegria", agrupamento da Aeronáutica. De um cordão de amigos que saíam com disfarces comuns nos bailes do Coritiba - então melhor Carnaval de salão da cidade - nasceria o bloco "Não Agite", ue curiosamente tinha entre os seus primeiros componentes adeptos de outros clubes de futebol, notadamente do Ferroviário como Clemente Comandulli, Luiz Fernando Azzua e Ronald Osti Pereira. A ideia nascera, porém, na casa de Neil Hamilton Schettini (Tica) já no ano de 1948, tendo sido concretizada a fundação em janeiro de 1949. Em 1959 o bloco participava pela primeira vez das manifestações de rua e como não houve concurso oficial ganhou duas taças oferecidas por sociedades. No ano seguinte, ainda sem fantasia, com calça azul e blusa vermelha, ganhou mais duas taças e animou durante dois dias o carnaval de Irati. Em 1952, entre 12 concorrentes, faz sétimo lugar e a cidade começava a gostar do bloco dos "coringas", pois usavam a fantasia de um herói de "comics". Luiz Fernando Arzua, irmão de Hipólito, presidia o "Não Agite" durante êsses anos e no centenário havia 23 blocos no carnaval, uma disputa excepcional, na qual os nossos heróis fizeram sexto lugar. No ano seguinte, era terceiro, aparecendo com um carro alegórico que conduzia a sua rainha. Do 4º lugar em 1954, chega em 1955 ao 1º por escolha de jornais, pois não houve concurso. O bloco saira fantasiado de "baralho" e venceu a maratona lá no Círculo Militar. Em 1957, no "Carnaval Diferente", bolado pela Sociedade Thalia e "Tribuna do Paraná", ganha seu primeiro título oficial com luxuosas fantasias de palhaços. Em 1958 (fantasia de "Mister Samba") e em 1959 (de "mandarins") ganha o tri. Era o Coritiba repetindo no Carnaval o que seus atletas iam obtendo no campo de futebol.
De 1954 em diante o "Não Agite" se transformou na charanga do Coritiba. Isso aconteceu na decisão com a Esportiva de Jacarézinho que havia esnobado com sua fabulosa torcida organizada lá e aqui. Só que nesses tempos a "batucada" não podia comparecer completa, pois o Ronald Osti Pereira, o Luiz Fernando Arzua e outros colorados, bem como elementos da imprensa como o Boris Musialowski, só podiam ir no Carnaval. Aliás isso criou muita ciumeira e até algumas dificuldades para os rapazes".
Revista Cori 70 - nº5