A reorganização do futebol brasileiro não é um tema novo e ganhou ainda maior reverberação após a Copa do Mundo de 2014, quando o coro por mudanças esgotou suas forças com o vexame em campo da Seleção Brasileira. Entretanto, as inúmeras iniciativas tupiniquins para esta reorganização não criam raízes no tradicionalismo perene de clubes e demais setores pela falta de um padrão eficaz. No Coritiba Foot Ball Club, há alguns anos, busca-se a fórmula para dar solução capaz de acomodar de maneira perene e convincente o novo fazer futebol, baseado em lógica e não mais na paixão de outrora.
No início deste ano, a nova gestão do Coritiba apresentou um projeto para a renovação alviverde, baseada em uma estrutura organizacional que observará toda a dinâmica do esporte de uma maneira conjunta, cuidando do começo, do meio e do fim. Ou seja, a formação de atletas e profissionais, a captação de talentos, observação técnica da equipe principal e base e a gestão de dados. Trata-se do projeto técnico desportivo com o nome de Unidade de Informação, Formação e Inovação do Coritiba (Unific), lançado em abril deste ano no I Seminário de Integração Técnica de Futebol do clube. Trata-se de um setor criado para unificar as ações voltadas ao futebol, atendo-se às estatísticas coletadas que se transformam em informação e conhecimento para tomadas de decisões estratégicas embasadas em planejamento, ciência e estudos de como estão as tendências. Isso tudo inserido na instituição como a alma do crescimento do rendimento do Coritiba nos próximos anos.
“O Unific é uma proposta ambiciosa e diferenciada, e sinto que o Coritiba tem condições de aplicá-la de forma coletiva. Todos os profissionais devem estar presentes na discussão deste projeto”, disse Maurício Andrade, diretor executivo do Coritiba. “O Unific é a estruturação daquilo que desejávamos para colocar como padrão, para organizar o futebol do Coritiba como um todo. É conceitual, moderno, e exigirá muito dos profissionais que estiverem envolvidos nele”, avaliou o presidente do clube, Rogério Portugal Bacellar.
A observação do presidente combina com esta demanda contemporânea, e, em suma, o Unific integrará as áreas técnicas e de saúde em torno de uma administração conjunta, sistematizando a inteligência coletiva no esporte. Analiticamente, é fácil detectar que o antigo modelo é falho, entretanto uma avaliação empírica de especialistas mostra para uma dificuldade em implementar uma nova cultura, afinal as estruturas tradicionais de governança dos clubes carecem de maior abertura e apoio neste sentido. “Estamos mudando uma cultura, sabemos que não será da noite para o dia. Mas queremos um trabalho de futuro. Quando os frutos vierem seremos recompensados”, projeta Bacellar.
As características deste novo modelo definem justamente o que se aplica nas principais escolas europeias. Com a quebra do tradicionalismo, os clubes brasileiros devem finalmente aceitar a renovação dos projetos técnicos desportivos, não contando mais com o pensamento de um treinador por outro, ou de um executivo por outro, mas sim das instituições.
Esta operação racional por rendimento esportivo é praticada há anos pelas principais potências esportivas mundiais. Foram justamente alguns destes exemplos que inspiraram o Unific. “O Santos Futebol Clube foi o primeiro brasileiro a incluir em seu estatuto social a estrutura profissional de seus departamentos”, lembra o presidente da Associação Brasileira dos Executivos do Futebol (ABEX), Ocimar Bolicenho. Da mesma forma, o trabalho feito por Arrigo Sacchi, no Milam Lab, uma atividade de cunho científico no clube italiano, ainda na década de 80, inspirou o Internacional para a criação do Intercenter, hoje um setor institucionalizado e parte da cultura do clube.
Estes dois modelos sobre tudo o gaúcho, inspiraram as bases do que hoje está sendo aplicado no Alto da Glória. O presidente da Federação Brasileira dos Treinadores de Futebol, Zé Mário Barros, esteve no Internacional quando na implementação do centro, hoje considerado uma das primeiras iniciativas do país. “Cada setor buscava o melhor para se completar com o outro buscando um benefício maior para o clube. Isso me animava a trabalhar e a cooperar com todos dentro do processo. E eu era simplesmente o treinador. Todos se preocupando com todos. Trabalho difícil. Quebrando paradigmas. Transpondo barreiras de anos de ranço. Esbarrando em funcionários antigos e novos na zona de conforto que a única preocupação era com o próprio bem-estar. Difícil você transformar trabalho puro e simples em comprometimento”, relembra Zé Mário.
Estas mudanças, para Zé, são vitais para que os clubes tenham alguma chance de sobrevierem. A reformulação técnica desportiva é a base de sustentação, o outro lado da moeda do conservadorismo atual. “Ou muda a mentalidade dos dirigentes ou volta ao amadorismo. Futebol hoje é negócio e para isso tem que ter pessoas preparadas. Os clubes não podem ficar à mercê da paixão dos torcedores e muito menos da paixão dos dirigentes ou da imprensa”, diz. “Gestão é a saída para os clubes. Todos os setores trabalhando para o bem da instituição. Não se pode mais fazer gastos sem ter a receita para cobri-los. Cabeça no lugar como qualquer empresa. Não adianta vir me dizer que futebol é diferente. Sei que é, mas será por pouco tempo se continuar sendo administrado dessa forma. Qualquer empresa já teria entrado em estado falimentar há muito tempo se fizessem o que os clubes têm feitos nesses últimos vinte e poucos anos”, analisa o especialista.
"A reestruturação é essencialmente necessária para a sobrevivência do futebol brasileiro. Nossos clubes são centenários e foram fundados como reunião de pessoas amadoras em entidades sem fins lucrativos. À partir do ano de 2000, o futebol passou a ser uma atividade econômica que movimenta milhares de recursos e, como tal, necessita de profissionais para ser bem administrado. Estamos num processo de transição entre o amadorismo e o profissionalismo. A formação acadêmica dos profissionais que fazem parte da administração de um clube de futebol passou a ser prioritária. Isso não quer dizer que o dirigente estatutário deva ser substituído mas, há de se ter uma perfeita harmonia entre o trabalho conjunto destas duas categorias de dirigentes. É um caminho sem volta. Resta saber quem serão os primeiros que adotarão essas novidades. Com certeza estes colherão os primeiros melhores resultados”, cravou Bolicenho, da ABEX.
A continuidade
O futuro do Unific será levado pela comunidade coritibana e pelos profissionais que integrarem o Departamento de Futebol do clube. Com a saída de Medina, semanas depois de ter inaugurado seu principal projeto, Maurício Andrade, que foi ativo nos estudos preliminares do setor, é o diretor executivo responsável pela sequência dos trabalhos. “É um dos braços de apoio do futebol, assim como o CEECOR é uma unidade de apoio da base ao profissional. Ou seja, um mecanismo de suporte dentro da tomada de decisão e sobre fundamentos científicos que tiramos da análise de dados”, confirma Andrade.
Esta determinante gerencial e um futebol de grandes resultados, condição desejada por gregos e troianos, resiste sobre a passionalidade que orientou o esporte por anos. Dirigentes e profissionais já entendem esta exigência lógica como uma realidade, e independente da paixão que orienta esta preferência nacional – maculada com os anos de amadorismo – no Coritiba, o Unific será o ente responsável em desenvolver esta dinâmica. Deixando que a emoção de arquibancada seja uma lembrança passada nos corredores do clube e a lógica dos avanços do esporte de alto rendimento sejam os elementos que cumpram as diretrizes e metas estabelecidas em projetos seguros para esta evolução.
“Temos real percepção de que estas mudanças são necessárias, por isso apostamos em um projeto forte que seja duradouro, que crie raízes. A qualidade dos profissionais será medida pela capacidade deles acompanharem o projeto, e não o contrário. Pois o clube continua, as pessoas passam. Esta é uma máxima no futebol, uma atividade que envolve tanta paixão, mas que precisa agora prevalecer a lógica”, definiu o presidente Bacellar.
A reorganização do futebol brasileiro não é um tema novo e ganhou ainda maior reverberação após a Copa do Mundo de 2014, quando o coro por mudanças esgotou suas forças com o vexame em campo da Seleção Brasileira. Entretanto, as inúmeras iniciativas tupiniquins para esta reorganização não criam raízes no tradicionalismo perene de clubes e demais setores pela falta de um padrão eficaz. No Coritiba Foot Ball Club, há alguns anos, busca-se a fórmula para dar solução capaz de acomodar de maneira perene e convincente o novo fazer futebol, baseado em lógica e não mais na paixão de outrora.
No início deste ano, a nova gestão do Coritiba apresentou um projeto para a renovação alviverde, baseada em uma estrutura organizacional que observará toda a dinâmica do esporte de uma maneira conjunta, cuidando do começo, do meio e do fim. Ou seja, a formação de atletas e profissionais, a captação de talentos, observação técnica da equipe principal e base e a gestão de dados. Trata-se do projeto técnico desportivo com o nome de Unidade de Informação, Formação e Inovação do Coritiba (Unific), lançado em abril deste ano no I Seminário de Integração Técnica de Futebol do clube. Trata-se de um setor criado para unificar as ações voltadas ao futebol, atendo-se às estatísticas coletadas que se transformam em informação e conhecimento para tomadas de decisões estratégicas embasadas em planejamento, ciência e estudos de como estão as tendências. Isso tudo inserido na instituição como a alma do crescimento do rendimento do Coritiba nos próximos anos.
“O Unific é uma proposta ambiciosa e diferenciada, e sinto que o Coritiba tem condições de aplicá-la de forma coletiva. Todos os profissionais devem estar presentes na discussão deste projeto”, disse Maurício Andrade, diretor executivo do Coritiba. “O Unific é a estruturação daquilo que desejávamos para colocar como padrão, para organizar o futebol do Coritiba como um todo. É conceitual, moderno, e exigirá muito dos profissionais que estiverem envolvidos nele”, avaliou o presidente do clube, Rogério Portugal Bacellar.
A observação do presidente combina com esta demanda contemporânea, e, em suma, o Unific integrará as áreas técnicas e de saúde em torno de uma administração conjunta, sistematizando a inteligência coletiva no esporte. Analiticamente, é fácil detectar que o antigo modelo é falho, entretanto uma avaliação empírica de especialistas mostra para uma dificuldade em implementar uma nova cultura, afinal as estruturas tradicionais de governança dos clubes carecem de maior abertura e apoio neste sentido. “Estamos mudando uma cultura, sabemos que não será da noite para o dia. Mas queremos um trabalho de futuro. Quando os frutos vierem seremos recompensados”, projeta Bacellar.
As características deste novo modelo definem justamente o que se aplica nas principais escolas europeias. Com a quebra do tradicionalismo, os clubes brasileiros devem finalmente aceitar a renovação dos projetos técnicos desportivos, não contando mais com o pensamento de um treinador por outro, ou de um executivo por outro, mas sim das instituições.
Esta operação racional por rendimento esportivo é praticada há anos pelas principais potências esportivas mundiais. Foram justamente alguns destes exemplos que inspiraram o Unific. “O Santos Futebol Clube foi o primeiro brasileiro a incluir em seu estatuto social a estrutura profissional de seus departamentos”, lembra o presidente da Associação Brasileira dos Executivos do Futebol (ABEX), Ocimar Bolicenho. Da mesma forma, o trabalho feito por Arrigo Sacchi, no Milam Lab, uma atividade de cunho científico no clube italiano, ainda na década de 80, inspirou o Internacional para a criação do Intercenter, hoje um setor institucionalizado e parte da cultura do clube.
Estes dois modelos sobre tudo o gaúcho, inspiraram as bases do que hoje está sendo aplicado no Alto da Glória. O presidente da Federação Brasileira dos Treinadores de Futebol, Zé Mário Barros, esteve no Internacional quando na implementação do centro, hoje considerado uma das primeiras iniciativas do país. “Cada setor buscava o melhor para se completar com o outro buscando um benefício maior para o clube. Isso me animava a trabalhar e a cooperar com todos dentro do processo. E eu era simplesmente o treinador. Todos se preocupando com todos. Trabalho difícil. Quebrando paradigmas. Transpondo barreiras de anos de ranço. Esbarrando em funcionários antigos e novos na zona de conforto que a única preocupação era com o próprio bem-estar. Difícil você transformar trabalho puro e simples em comprometimento”, relembra Zé Mário.
Estas mudanças, para Zé, são vitais para que os clubes tenham alguma chance de sobrevierem. A reformulação técnica desportiva é a base de sustentação, o outro lado da moeda do conservadorismo atual. “Ou muda a mentalidade dos dirigentes ou volta ao amadorismo. Futebol hoje é negócio e para isso tem que ter pessoas preparadas. Os clubes não podem ficar à mercê da paixão dos torcedores e muito menos da paixão dos dirigentes ou da imprensa”, diz. “Gestão é a saída para os clubes. Todos os setores trabalhando para o bem da instituição. Não se pode mais fazer gastos sem ter a receita para cobri-los. Cabeça no lugar como qualquer empresa. Não adianta vir me dizer que futebol é diferente. Sei que é, mas será por pouco tempo se continuar sendo administrado dessa forma. Qualquer empresa já teria entrado em estado falimentar há muito tempo se fizessem o que os clubes têm feitos nesses últimos vinte e poucos anos”, analisa o especialista.
"A reestruturação é essencialmente necessária para a sobrevivência do futebol brasileiro. Nossos clubes são centenários e foram fundados como reunião de pessoas amadoras em entidades sem fins lucrativos. À partir do ano de 2000, o futebol passou a ser uma atividade econômica que movimenta milhares de recursos e, como tal, necessita de profissionais para ser bem administrado. Estamos num processo de transição entre o amadorismo e o profissionalismo. A formação acadêmica dos profissionais que fazem parte da administração de um clube de futebol passou a ser prioritária. Isso não quer dizer que o dirigente estatutário deva ser substituído mas, há de se ter uma perfeita harmonia entre o trabalho conjunto destas duas categorias de dirigentes. É um caminho sem volta. Resta saber quem serão os primeiros que adotarão essas novidades. Com certeza estes colherão os primeiros melhores resultados”, cravou Bolicenho, da ABEX.
A continuidade
O futuro do Unific será levado pela comunidade coritibana e pelos profissionais que integrarem o Departamento de Futebol do clube. Com a saída de Medina, semanas depois de ter inaugurado seu principal projeto, Maurício Andrade, que foi ativo nos estudos preliminares do setor, é o diretor executivo responsável pela sequência dos trabalhos. “É um dos braços de apoio do futebol, assim como o CEECOR é uma unidade de apoio da base ao profissional. Ou seja, um mecanismo de suporte dentro da tomada de decisão e sobre fundamentos científicos que tiramos da análise de dados”, confirma Andrade.
Esta determinante gerencial e um futebol de grandes resultados, condição desejada por gregos e troianos, resiste sobre a passionalidade que orientou o esporte por anos. Dirigentes e profissionais já entendem esta exigência lógica como uma realidade, e independente da paixão que orienta esta preferência nacional – maculada com os anos de amadorismo – no Coritiba, o Unific será o ente responsável em desenvolver esta dinâmica. Deixando que a emoção de arquibancada seja uma lembrança passada nos corredores do clube e a lógica dos avanços do esporte de alto rendimento sejam os elementos que cumpram as diretrizes e metas estabelecidas em projetos seguros para esta evolução.
“Temos real percepção de que estas mudanças são necessárias, por isso apostamos em um projeto forte que seja duradouro, que crie raízes. A qualidade dos profissionais será medida pela capacidade deles acompanharem o projeto, e não o contrário. Pois o clube continua, as pessoas passam. Esta é uma máxima no futebol, uma atividade que envolve tanta paixão, mas que precisa agora prevalecer a lógica”, definiu o presidente Bacellar.